Violência contra a pessoa idosa: especialista aborda ações e o cuidado no serviço de Geriatria do HGCC

30 de junho de 2025 - 15:36

Assessoria do HGCC
Texto: Wescley Jorge
Fotos: Thiago Freitas

No mês de junho, é celebrado o Dia de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. O Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), destaca a importância da escuta qualificada e do atendimento multiprofissional na assistência à população idosa. No HGCC, esse acompanhamento faz parte da rotina de trabalho da equipe do Serviço de Geriatria, que atua com uma abordagem integral e humanizada.

A geriatra e coordenadora do Serviço de Geriatria, Ianna Lacerda, concedeu entrevista sobre o assunto e destaca as principais ações de violência contra a pessoa idosa e fala da importância do serviço e do atendimento no HGCC.

 

Nesse contexto da campanha da Violência contra o Idoso, de que maneira o Serviço de Geriatria do HGCC pode colaborar com essas conscientizações?

Temos uma equipe bastante atuante para detectar e agir em casos de violência. Desde o início da geriatria do HGCC, temos uma assistente social dedicada ao atendimento de idosos. Os residentes de geriatria e de clínica que atuam no serviço participam de discussões sobre o tema do ponto de vista multiprofissional.

 

Como a atuação das diversas categorias de saúde no ambulatório atuam para maior qualidade de vida desses idosos?

A violência acelera a deterioração da saúde da pessoa idosa de diversas formas. Quando há exploração financeira, por exemplo, o idoso é privado de sua autonomia e segurança. O impacto emocional também é profundo: episódios de violência podem desencadear quadros de depressão, perda de interesse pela vida e, em alguns casos, até sintomas semelhantes aos de doenças como o Alzheimer.

Um caso emblemático foi o de uma idosa que, após receber uma quantia enviada pela filha, que mora em Portugal, foi assaltada na porta do banco. A partir desse episódio, desenvolveu um quadro de depressão com sintomas psicóticos. A família, sem compreender o que estava acontecendo, chegou a acreditar que se tratava de demência.

Além disso, a violência por omissão — quando o idoso é negligenciado em suas necessidades básicas — também é um fator de risco importante para o surgimento de doenças neurodegenerativas. Estudos mostram que essa forma de violência pode aumentar em até 4% o risco de desenvolver Alzheimer.

Diante desse cenário, o papel de equipes de saúde bem treinadas é fundamental. Profissionais capacitados conseguem identificar precocemente os sinais de violência, oferecer o manejo adequado e buscar soluções que minimizem os danos para o idoso e sua família.

 

Quais são as principais violência sofridas por esses idosos?

Negligência ou violência por omissão

Privação de cuidados básicos, alimentação, higiene, medicação e abrigo adequado.

Violência psicológica ou emocional

Ataques verbais, humilhação, isolamento, chantagem emocional e ameaças.

 Exploração financeira ou patrimonial

Apropriação indevida de recursos, saques não autorizados, controle econômico por familiares ou cuidadores.

Violência física

Agressões como tapas, empurrões, quebras de objetos, restrições de liberdade e maus-tratos físicos.

Abuso sexual

Qualquer ato sexual sem consentimento, inclusive em contextos de vulnerabilidade cognitiva.

Violência por negligência institucional ou domiciliar

Falhas intencionais ou negligentes em prover suporte, abrigo e segurança mínima.

A maior subnotificação acontece justamente em ambientes domésticos, onde o idoso vive com familiares ou cuidadores.

A violência financeira, uma das formas mais sutis, muitas vezes passa despercebida, com indícios visíveis apenas quando há transações suspeitas ou desaparecimento de bens.

 

Qual a importância do Serviço de Geriatria do HGCC?

O idoso com comprometimento da consciência — especialmente aqueles com demência — está entre os mais vulneráveis à violência. As alterações de linguagem, memória e discernimento dificultam ou até impedem que ele reconheça, compreenda ou relate episódios de abuso, tornando-o um alvo fácil para agressores, muitas vezes dentro do próprio ambiente doméstico.

No Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), nosso serviço é referência no atendimento a idosos com transtornos cognitivos no âmbito do SUS, com foco especial no diagnóstico e manejo clínico-comportamental de pessoas com demência. Atuamos com uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, o que permite uma abordagem integral e sensível às múltiplas dimensões da saúde do idoso.

O Atlas da Violência 2024 reforça a relevância desse modelo de cuidado, destacando que idosos com deterioração cognitiva estão em maior risco de sofrer violência por negligência, abuso financeiro, maus-tratos físicos e emocionais, muitas vezes sem conseguir expressar o que estão vivendo. Nesse contexto, equipes capacitadas são essenciais não só para o diagnóstico precoce da demência, mas também para a identificação de sinais sutis de violência e o encaminhamento adequado para os serviços de proteção.

Nosso compromisso é promover não apenas o cuidado clínico, mas também a proteção e dignidade da pessoa idosa, especialmente em fases de maior fragilidade